Morro

– Ó o Pó! É quinze, é quinze!

Confusão, muita gente passando por todos os lados. Barulos vários, cheiros esquisitos. Num canto passa uma calha de esgoto que vai dar lá embaixo, no ribeirão. Por ali passa um mulato mirrado e barrigudo com um fuzil Willis, velho como o próprio mundo. Dúzias de meninos correm aparentemente caóticos atrás de uma bola de meia.

Em cima da laje a morena passa bronzeador enquanto fala das amigas sobre o último baile. Ela só tem quinze anos e o baile não foi de debutantes. Uma delas estava grávida já há vários meses. O filho era do bonde…

O morro ferve, um calor terrível. Rio quarenta graus. De repente aparece uma ratazana cinzenta, enorme, do meio do nada. Os garotos do futebol, enlouquecido, correm atrás dela com dúzias de pedaços de pau. A ratazana corre, assustada, cercada que está por todos os lados. Os meninos se entregam à caçada num êxtase animal. O primeiro a acerta, jogando longe. Os outros correm malucos, e a trucidam em mil pedaços.

Pingola, o mais novinho, brinca com as tripas escancaradas do animal com uma cápsula de fuzil achada ali ao lado. Sua mãe corre em sua direção, falando mil esconjuros que aprendeu com sua mãe na Bahia de Todos os Santos. O menino sai chorando, com o cucuroto quente dos petelecos…

O mulato mirrado com o fuzil Willis pára numa elevação, e fica mirando. Mira na ratazana, mira na cabeça do Pingola, na barriga da menina grávida em cima da laje, na bola de meia e, por fim, na menina bonita que se bronzeia em cima da laje, sentada numa cadeira de praia comprada na promoção do Extra. Pára por ali e contempla o próprio poder. Faz que vai atirar com o fuzil e faz pêi! com a boca. Dá uma rizada irônica.

Silêncio total. Todos olham assustados pro mulato. A favela pára. Assim o calor fica ainda mais insuportável. Um cachorro molambento, cheio de feridas se coça, lambendo o pro próprio ânus. Todos olham assustados pro mulato. Ele olha assustado pra si mesmo. Abaixa o fuzil, coça a bunda com fervor e cospe nojento na vala de esgoto.

– Tão olhando o quê, caralho!

Silêncio

– Vão encarar, vão encarar?

Silêncio.

– Quer saber? Essa porra tá muito parada. Quero ver todo mundo dançando…

Atira pro alto. Todo mundo corre pras suas casas, assustados. O cachorro sai dali ganindo, entra num beco e some. Sobra só o mulato, parado, no meio da elevação. Um cachorro grande late longe, irritado.

– Pêi! Heheheheheehehehe

O mulato ri engraçado, que nem aqueles vilões de Hollywood.

7 comentários

  1. Urban disse:

    POETAAAA!

    que máximo …. pensei na hora em Tropa de Elite … rs
    Excelente narrativa viu!! Poder é o seu!

    xêro
    😉

  2. Claudia Lyra disse:

    O mulato ri e a gente fica com vontade de chorar… fala sério…

  3. Cily disse:

    Pede pra sair, Poeta!

    Desculpa, ñ resisti! 😀

  4. Marília disse:

    Interessantíssimo!
    😉

  5. Menina Eva disse:

    Fica assim não. Aqui, colinho, colinho pra você.

  6. ana p. disse:

    Ah, Poeta… eu diria que é zuado, mas acho que já discutimos bastante em menos de 24 horas sobre este mesmo assunto.

    Não esquece o conselho, tá bom? Amo tu, minino!

  7. Dux disse:

    e ai poeta legal suas ideias gostaria sabe se vc não quer ,me mandar uma letra de rap para eu gravar no meu cd que ta pra sair no começo do ano que vem qualquer coisa manda no meu e-mail duxocara@hotmail.com se poder pode me add no seu msn ok abraços

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