Início do dia

A vontade de dormir abalar os ossos desde quando acordo. Sigo os dias alquebrado, roendo as unhas em busca de um sentido para os dias. Lentamente me banho e me recomponho de historias. O sorriso falso quase me convence quando passo o dedo no espelho embaçado e me reconfiguro.

Um novo dia começa. Uma andança pela mesma cidade, pelos mesmos rostos anestesiados pelo sonho de serem reis de nada, crentes que estão com as mentiras que contam nesse nosso tempo.

Não sou assim. Sonho, é verdade, mas por eles não passa a solidão do homem que contempla o mundo do alto de seu castelo. Há abismos, florestas e mares vários em que me banho. Mas também há corpos multicores, sotaques e cheiros que me tomam.

Nada que seja só me contempla. Eu sou eu no outro. Encontro-me na loucura do conhecer-me nos olhos dos habitantes do mundo.

Mas às vezes cansa. É difícil mascarar o desejo de mudança à necessidade de quebrar as correntes que docemente me prendem. Nos falta coragem de largar uma ilusão de equilíbrio.

E assim, perco meus dias e me acostumo a recontar as mesmas histórias.

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