Eleva-se o Leão da Selva
Em pedra luzindo errante
Brada, agita, eleva
A terra de Anacreonte!
As musas, desterro pétreo
Ribombam qual Cicerones
Cantam, dividem o cetro
Da guerra ao reino distante
E o canto embala o Império
A casa, o terraço, a lua
Espalham o vão mistério
Da vida que continua…
Pousam na Terra as fadas
Do herói ferido, o ósculo
Suas asas vão delicadas
Inflamam o momento histórico
“Beijai, ó damas, bendigo”
“Não chorai: é pleno o dia”
“Não temam, não há perigo”
“A Prosa Vencerá a Poesia”
A nau singra os vales augustos
O estandarte do reino balança
Guerreiros dentre os mais justos
A Palavra: virtude é a lança
Que corta, destrói, ressuscita
Inflige as dores mais cândidas
Cura da praga maldita
Que nos corrói as entranhas!
“Emanuel, Emanuel, meu filho!”
“A faca que trouxestes é cega!”
“O escudo de ouro é um suspiro”
“Tua mão fria me gela”
“Enquanto me esbarro contigo”
“Banhado do sangue teu”
“Carrego-te pelo campo de guerra”
“Impregnado da ira de Zeus”
“Maldigo a toda Terra”
“Quem vem matar o rei dos andantes?”
“Quem vai vingar uma dor tão terrível?”
“Quem ousou trespassar com a lança”
“O peito vazio do meu filho?”
Chora o Rei, o leão
Choram as fadas aflitas
Deitado inerte no chão
O príncipe das profecias
.
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.
.
A luz delicada ressoa
Na noite silente de outubro
Nem barco, nem lança ou pessoa
Quebra o frescor noturno
Mas ali, um rubor imponente
Clareia o horizonte ao longe
Talvez seja o deus dos clementes
Talvez pela prece de um monge
Talvez sejam gaitas e foles
Cantando um fado arrastado
A faca que geme e se move
No fulgor do porvir, o passado
Emanuel, Emanuel, Emanuel
Cantam os anjos e filhos
Nos brejos, na Terra e no Céu
O brado mais genuíno:
Esperança, me toma nos braços
Um reino sem príncipes ou reis
Sem negros, pobres e escravos
Onde nem força, limite ou lei
Macule a esperança dos fracos!
E a bela com braços abertos
Me beija, efusivamente
Não há leão, nem reino, nem cetro
Nem guerra ao reino distante
Somente o carinho e afeto
Nos corações dos amantes
Vi! Venci! Chorei as mortes dos justos
Mas brindo à força dos vivos
Meu peito canta ininterrupto
Coragem é o nome do silvo
Adeus, bendigo as palavras
Confirmo o atroz proceder
Adeus aos dias amargos
Meu reino agora é você…