Little Joy

 

Está escrito nas ruas, nas luzes e escuros, nos silêncios urbanos. Está escrito no vento que atravessa até os ossos. Está escrito no frio de janeiro. Está escrito na quietude da noite. Está escrito nas caras inchadas dos mendigos, nas perebas blenorrágicas e sanguinolentas. Está escrito na chuva que torna tudo mais leve, mais vistoso, levemente impressionista. Está escrito na arquitetura da cidade, na serenidade das coisas intangíveis. Está escrito nos sons inaudíveis da noite, nos roncos inocentes das crianças, na paz estimulante dos cemitérios.

O carro vara a noite eu sinto: ela está viva e me beija com sua alma esperançosa. Tão inculta e bela. Tão injusta e terrível. Assaz encantadora, embala-me com teu canto sirênico, com tua piedade atroz e indirecionada. Ah! Como todos são injustos com tua candidez! Como zombam por seres impiedosa…

A cidade está viva e teu coração pulsa na cadência dos que a constroem todos os dias. E sua alma vive com os sonhos dos seus filhos que afloram dos seus campos cerrados e das suas avenidas intransitáveis. Tuas lágrimas me guiam enquanto vivo contigo a expectativa de uma nova alvorada. Esperança: dizem que tu és capital. Vives dela, és tua irmã, és tua amiga e confidente. És teu espelho e com tuas asas guia uma expectativa renovada de mudanças.

Quero-te. Amo-te como nunca amei nada intangível. És a estrelas das impossibilidades, metade de meias-verdades. És um canto negro, embalado pelos martelos e enxadas dos candangos.

A flor que em guarda

aguarda o beijo, temido

tem medo, sufoca

se esforça pra ser

    [mais]

 

        e eu canto à primavera

        mascarado, sucinto

com as cores mais belas

e terríveis

                [vindouras]

na boca, entre os dentes

um sorriso de escárnio

uma armadura e um gládio

prontos para a luta ao luar

        [infames]

E canto à primavera,

Porque sem ela

nem cor, nem beijo,

nem amor, nem sentimento,

nem nada

        [impávida]

Canto a ti, flor silvestre

que aos cantos colores quando vestes

as cores da paz e da guerra

ambivalente, pelos prados, pelas ruas

pelas casas das paixões que invades, nua

em pétalas e caules…

            [pendão austero e auriverde]

canto a ti, flor augusta

que com o fulgor de tenra idade

és eternidade, qual o amor

                [fugaz]

e quando canto a ti

quando sorris na cidade

embalsamada pelo concreto

de outro dia perdido

dás um grito inaudível, um gemido

um sussurro…

            [suicídio]

Da arte de ser feliz II

É noite. Tento ficar desperto, mas é cada vez mais difícil. Por outro lado, dormir é impossível. É noite e das janelas dos apartamentos eu posso ver várias luzes acesas. Alguns fumam nas janelas e outros tantos assistem televisão. Nem cigarro, nem tevê. Eu saio. Ando pelas ruas vazias. Passam ônibus para itinerários que eu não conheço, bairros cujos nomes eu vi em algum lugar, talvez no jornal, talvez nas paredes pichadas nas ruas, talvez em algum livro antigo do colégio. Eu tenho medo. Penso em minha vida enquanto um travesti me oferece sexo fácil. Eu nego. Entro por uma rua escura que eu não conheço. É quente. Ali não passa vento e posso sentir o cheiro rançoso de cigarro, de suor e de sexo. Eles falam alto, eles gritam, eles me oferecem cerveja choca, um baseado e alegria fácil. Eu fico, não há nada melhor pra fazer. Bebo com desconhecidos, pago uma rodada, duas. É tudo tão alegre. É tudo tão fácil. É tudo tão falso.

Levanto-me da mesa, meio tonto. Ando mais um pouco. As putas sorriem com dentes podres. Uma, duas, cinco, vinte. Em fila como num batalhão de fuzilamento, com roupas curtas e berrantes, mostram o corpo. Sorrio. Uma me toca, me oferece. Pergunto o preço. Digo que não. Ela sorri, oferece um desconto. Eu digo que não. Eu ando pela rua, eu tropeço em um cão vadio que mexe no lixo. Me encho de lixo. Me banho de lixo. Me levanto. É noite. Ando a esmo por lugares desconhecidos. Os carros passam, alguns com o som alto, alguns com luzes várias. Minha cabeça roda, she rides, she rides. There is insanity and chaos, and closing clouds hiding the sky. But I’m alone, again.

E eu cantarolo uma música de infância. Uma brincadeira de roda com palmas e danças. But I’m alone, again. E eu não me lembro de nenhum amor, nenhuma história de paixão verdadeira nos últimos cinco anos. Será que eu vivi mesmo ou será que estes cinco anos de trabalho foram os verdadeiros anos da minha vida onde deveria deixar algo que fosse lembrado, algo que me orgulhasse e não desconhecidos em bares imundos? Não sei.

Entro por uma praça, onde mendigos acordados bebem. Bem ao centro, uma grande estátua de dama sentada, olha altiva para o horizonte. Ela parece tão… maternal… introspectiva… sedutora…

Olho para aquela alegria marmórea, implacável. E me emociono. Subo, escalo suas pernas e me deito em seu colo, acolhido, amado, como nunca fui. E durmo, todo o resto da noite, como não dormia há muitos anos.

 

 

Stone and Rose

Immaculate.

A stone broking the wall:

Stonewall,

Stonehedge…

Like a prayer, a monastic,

An obstacle to the wind:

A rolling stone

Creating doors for the perception…

Chronicles about love and despair,

Loving a red flower that is

Seesawing on the abyss

The flower smiles

She’s a red rose

Without fear

Without looses and nightmares…

Her only companions are the rain and the stone

The time and the eternity

The love.

And she waits, ‘cause she knows

She is pure.

They are pure.

And nothing else matters…

The nature and the chaos

Two sides and other sides

A flower and a stone

Interconnected, mixed

Made from the same type of dust.

Onde

Onde existe fim,

Existe dúvida e medo,

Onde existe glória e caos,

Onde dormem os filhos,

Onde pousas os pés,

Onde voam os sonhos,

Tocam os sinos,

Balançam os cabelos,

Venta.

 

Onde existe a fortaleza

E a dúvida

A certeza

E a paga

A monarquia

Ingrata

A poesia

Desaparecida

 

Onde há amor

E fúria

Feridas pútridas

Carnes

Cálices

Sapatos

Prendas

Rendas

Amores

Cores

Fuligem

Carniça

 

Onde existe o verso

Errante, incerto

Impresso

Absoluto

Qual luva

Luar

Lácio

Indeciso enquanto fácil

Lábios

Beijos

Sinestesias

 

Onde estou?

Quero da boca o abraço

Da dúvida a impetuosidade

Do inteiro a metade

Facas, soldados, desembaraço

 

Quem me vê dando nome às flores

Queridas, jasmins, perdigueiros

Nada se perde em janeiro

Meu sangue esvaindo-se em Açores

 

Lembro de ti, esperança

Avisto-te que não brado

Respiro

Facas cortando

Zumbidos

Flácidas nuvens

No céu

 

Onde estás? Onde?

Procuro-te nas flores

Nos véus

Nas imagens santas que me cercam

Nas avenidas

Nua

Perdida

Incólume

Decidida

 

E quando te achar

O desespero, embora me acompanhe

Dar-me á alívio

Mesmo que me domes

Pra não dizer que não falei de flores

Prólogo

Arauto

Vós que amais de olhos fechados

Ouvi-me!

É cedo

E a noite ainda dorme.

Filhos amados

Permitam-se

O sono dos justos já não revigora

E a amor não balança os corações.

Ouvi-me, justos!

O grito dos ímpios me atrapalha!

É preciso ver surgir na Terra outro dia

Colorido com flores dos jardins!

Ouvi-me justos, ouvi-me!

Já não há flores, nem quintais!

[Tocam trombetas]

Fada

Nem que eu precise mais canção!

Dormem na noite os justos

E descansa na pele o regaço

Lutam contra o destino imundo

Façam o mesmo que faço!

Brilhem! Iluminem a noite com o lume!

Façam da poesia a música alegre!

Anjos do céu! Venham comigo!

Filhos da Terra, toquem o sino!

Homens! Homens! É chegada a hora!

Nem medo, nem frio, nem degola!

Sigam o sonho, cantem o hino

Acompanhem de perto as trombetas

[novamente as trombetas]

Arauto

Homens, anões e duendes!

Pássaros, flautas, estrelas cadentes!

Flores, regatos e pântanos!

Mares, céu e vento!

Caminhai, caminhai!

É chegada a hora!

Quebrem-se os muralhas

Abram-se as portas da percepção

Destituam-se os generais

Percam-se os exércitos da Terra

É chegada a hora, é chegada a hora!

Viscondes, duques, marqueses

Proletários, vagabundos, burgueses

Eis o hino! Eis o hino!

Vícios mortais, eis que vem

Ao longe os Neandertais!

Fada

Europa! Europa!

Traga a primavera!

O fogo toma o céu!

Fervei, fervei, navegai!

Filhos da corrupção, tremei!

De longe os alquimistas!

Eis que vem o sol

Dourando a pele dos bárbaros

Arauto

Cantai, ó justos, às vilanias do mundo

Cantai, antes do cadafalso dos tiranos

Cantai

Coro

Respirar o ar

Respirar

Respirar o ar

Respirar

Fada

A canção nos toma

Coro

Respirar o ar

Respirar

Respirar o ar

Respirar

Arauto

Navegar

Navegar!

Todos

É o tempo!

É o tempo!

É o tempo!

É o sol!

[fecham-se as cortinas]

Cena 1

[casa de Casíodo]

Casíodo

Quem for me ver

Me envenenar

Ou me ensinar

A ver o céu azul

Quem for me ver

Envenenar

Saciar

A flor e o barril

Quem for me ver

Envenenar.

Caminham as aves

Mostram os caminhos ao sol

Voam as formigas

Arrastam-se os jacarés!

Quem me ver

Quem me ver

Quem me ver

Já é.

[entra Helena]

Helena

Caminham as formigas

Voam as aves

Nadam os jacarés

Casíodo

Quem se importa?

Helena

E as trombetas?

Casíodo

É o fim!

Vida longa à iniquidade!

Helena

Somos pecadores, Casíodo.

Tenho medo!

Casíodo

Somos reis entre os homens!

Nada nos atinge

Íntegros dirigentes dos destinos

Sou rei!

Que me importa?

Não há pedras suficientes

Para limpar da Terra todos os pecados

Acabou a noite, raiou o dia

Mudou a rota

Ficou o tempo

Não há canção, nem sino ou trombeta

Ficou a majestade,

A glória.

[ouvem-se gritos]

Helena

São gritos que ouço?

É o vento que traz

Ó, destino traçado!

Ó, peito ferido!

É a morte que chega de longe

Atracada em nosso cais!

Coro

Marchai! Marchai!

Avante! Marchai!

É nosso o tempo, é nosso!

Decidamos assim os nossos ideais!

[o povo chega com tochas, paus e pedaços de madeira. Casíodo ergue a espada]

Casíodo

Marginais! Tremei

Como ousai desafiar vosso rei?

Coro

São as flores vencendo o canhão!

Seguir, seguir a canção!

Casíodo

O que há?

[o arauto desce das nuvens]

Arauto

Flagelo das dores é findo!

É hora de trocar a labuta

É tempo, chegado o tempo

Mudando decerto a conduta

É tempo, não percam o tempo

É hora de cair em luta

[Chegam os soldados]

Soldados [em coro]

O soldado não tem medo

Obedece sem razão

Não tem nada na cabeça

Nem direito a oração

O soldado obedece

Não se aprende na escola

Não tem dia, não tem hora

Casíodo [aos soldados]

Matem todos!

Coro [tocando apitos]

Não há morte!

Só há o destino

Não há medo

Segui o caminho

Não há sol só há o tempo

Os alquimistas voam no vento

[Do meio do coro sai o alquimista]

Alquimista

Trotes do mal não adiantam

Não há medo

Só a canção

Não há medo

Só, a canção!

Bradem meus amigos

Bradem

O céu nos escuta

É hora de fazer justiça

É hora de mudar a história

Vilipendiados somos

Mas o amor nos une

É a pele, é a pena, é a mão

Caminhando e seguindo a canção

Sigam o arauto do céu

Helena [de joelhos]

A flor me invadiu

Não vou resistir

Erguei, erguei os canecos

Não há, não há mistério

Não há, não há solidão!

Coro

Salve regina

Madre regina

[teu magno e distinto coração

tua boca de amor e justiça

teu colo que descansa nossa língua

tua pele que transborda a loucura

madre nossa, madre

teu sol é nossa justiça

teus versos são nossa canção]*em latim

Arauto

Os anjos cantam por vossa boca

Helena

De que servem os anjos agora?

Coro

Avante soldados!

Avante!

É hora de seguir o destino

Casíodo

Não há destino, apenas a glória

Coro

Não há glória apenas a canção

Alquimista

Não há angústia, a dor já termina

Helena

É o amor que nos move agora!

Coro

As flores nos ouvem as flores

Acabaram-se todos terrores

Ficou apenas canção, canção!

[ouve-se um relâmpago. Todos balançam pelo vento]

Arauto

É hora de irmos pro céu!

É hora de virem as nuvens!

Adeus mundo, adeus

Alquimista

É a eternidade. É a eternidade

Navegar, navegar

Mudar o mundo

Navegar pelas nuvens.

É outra depressão

Uma nova invasão na cidade

É outra depressão

Nossos sonhos dobraram a metade

É outra depressão

Acabou o silêncio, ficou a verdade

Coro

Venham as nuvens, ei-nos canção

Deixemos a glória de lado

As flores nos vencem as flores

Quebram-se os grilhões do pecado….

Elogio às Flores

Não ligo.

Traio meus próprios intentos

Vario soluções e momentos

Catalismo minha álgebra,

Sussurro a cor sonâmbula e ilógica,

Planto-me em vasos e me rego.

.

Recuso-me a contrariedades

Sou a expressão cruel da verdade

Verde, lilás, anil, fúcsia

Rosa, margarida, dedo-de-moça

Cravo, crisântemo, ametista;

Que flor seja:

Brilho com meu brilho,

Pinto o mundo

Perfumo.

.

E que me vale a solidão?

Maquio-me de cores várias

Estou nas ruas, estradas, países

Faço pessoas felizes

Nos cantos por onde passo.

Sou a cor do mundo.

.

Sonho sim! Claro que sonho.

Sonho que serei eu a acabar as guerras

Acalentar todas as ruas das cidades

Surrupiar do mundo as misérias

Abrigar sobre mim as mazelas esquecidas

Dar de comer às almas sedentas do pobres.

Sonho ser a revolução silenciosa:

Sem sangue

Sem canhão

Sem lágrima

Sem dor,

Sem heróis.

Sonho ser o símbolo do tempo novo.

.

Mas existo.

Em cada parte, pinto

De Monet a Mondrian

De Poncelet a Ives Saint Laurent

Brasília, Rocinha, Amsterdã

França, Londres, Paris, Pontisan:

Florianópolis.

Existo para o encanto:

Estou na tango, na boca

Na língua, em tantas que me perco

No peito vazio das prostitutas

Nas mãos dos boxeadores após as lutas

Na alegria, no amor, na vaidade,

Nos cetros dos reis, nas vielas das cidades

Nas mãos lambuzadas dos amantes

No veio da terra lamacenta

Na rua, no filme de 40

Na garganta enevoada dos neandertais.

.

Sim, quero invadir todos os lugares

Quero perceber todas as verdades

Quero possuir todas as bocas

Todos os lábios, estar em todos os orgasmos

Colorir todas as despedidas.

Quero estar no mar, com Iemanjá

Estar no Japão, com Gautama,

No olimpo, ao lado de todos os deuses

Com Baco nas orgias.

Sim, também quero vinho,

Quero me embebedar de virtude

Quero me entupir de poesia

Quero chorar de nostalgia

Quero lembrar, quero esquecer

Quero voar com os paraquedistas

Pousar nas luas-de-mel

Andar nos cabelos das meninas

Nas mãos suadas dos rapazes

Nervosos no começo da vida.

Quero a paz sem fronteiras

A alegria verdadeira

A liberdade perfeita,

Onde todos sejam, não pareçam.

.

E quando pousares moribundo

Na tua última viagem

Lá estarei de braços abertos

Para levar-te à eternidade

Face

Face que a flor

Fornece o furor

Fenece a função

Fornica a razão

E finca a fusão

Felicitação

Lambe que a voz

Suave sucumbe

A face ilumina

A situação

E a noite domina

O dia termina

A fuga, fugaz,

Frutifica o chão

E fica na fronte

A face gentil de Anacreonte

Fundada

No inocente horizonte

Não sabe o lado de onde

A face supondo

Face que firma

Face marina

Face sublime

Pacificação

O pão que suspira

A fascinação

A indolente pira

Que sobe e domina

Que muda e consuma

E termina

E muda e transforma a sina

E muda a face

Ruborização

Face

Que se fosse outra face

Moeda falsa que passa

Moeda falsa que grita

Duas caras na mesma corrida

Em face do mesmo dilema

Fácil

Fático

Fálico

Fim

Confusão…

Parte 1 – De Brasília a Santiago

Então, vcs sabem que eu estou viajando para o Chile. Bem, eu só vou voltar na segunda, mas acho que devo contar um pouco sobre as coisas que aconteceram aqui. Saibam que vcs estiveram o tempo todo comigo.

Bem, resolvi começar pelo princípio. Tá certo que o princípio não é lá muito bonito, mas tá valendo…

É que o princípio foi muito triste. As duas semanas em Brasília foram, provavelmente, as melhores dos últimos meses. Eu e dona namorada vivemos momentos muito felizes, dividimos alegrias, sorrimos muito e acreditamos que a vida vai ser muito boa daqui pra frente. Mas, infelizmente, eu tinha de ir embora e mesmo estando muito a fim de ir pro Chile, sabia que isso significava estar longe da mulher que amo. Porém sabia que não havia outro jeito. Eu tinha de voltar pro Rio pra terminar o mestrado e tinha de ir pro Chile para apresentar minha pesquisa para o Mundo.

Mas doeu muito. Evitamos a despedida a todo custo, fizemos planos, aproveitamos as noites. Fomos dois loucos em um mundo onde a normalidade impera. E, no meio de nossa estranha loucura, a felicidade veio como um suspiro e ficou por vários dias.

E então, na rodoferroviária de Brasília, quando nos despedimos, era como se não houvesse mais suspiros, alegrias. Como se fôssemos nos despedir para sempre. Como se nossos olhos nunca mais fossem se encontrar.

E chorei, chorei muito quando o motorista fechou a porta do ônibus. Chorei como nunca pq sabia que não poderia ir contra o meu destino. Sabia que não devia seguir meu coração. Sabia que era preciso abrir mão agora para ter muita alegria depois.

E sequei os olhos, admirando a paisagem do cerrado. Aquelas árvores retorcidas pareciam tão tristes… Eram as árvores as amigas de minha solidão.

***

A viagem de ônibus para o Rio durou dezesseis horas. Eu esperava que durasse dezoito. Torcia para durar vinte e duas. É que do ônibus eu ia direto para o aeroporto. A mala enorme, uma grande mochila nas costas, os olhos fundos da noite em claro e às cinco e meia da manhã estava no Rio. Liguei para casa, dei notícias e rumei para o aeroporto.

Tinha de chegar ao aeroporto apenas às 14:30 e comprei a passagem do ônibus pensando em chegar mais cedo mesmo, mas não esperava que fosse tanto. Foi a primeira vez na minha vida que eu ouvi falar de um ônibus da Itapemirim que chegou adiantado…

Fui para um canto escondido do Galeão que eu já conhecia. Peguei um livro (A História das Guerras) e li sem parar por cinco horas. Cheguei até a II Guerra Mundial (modéstia à parte, eu leio muito rápido). Olhei para os lados. Tantas pessoas, tantos sotaques. A tristeza batendo forte ainda no coração. Liguei pra dona namorada. Quase chorei de novo. Mas era preciso ser forte. Ela me desejou toda alegria do mundo. Eu sorri. Ela sabia exatamente o que eu sentia. Amar é bom. Amar correspondido é melhor ainda.

O Rodrigo (grande colega de viagem que me acompanharia até a volta ao Rio) chegou faltando cinco minutos para as 14:30. Sim, eu estava desesperado. Sim, não precisava ficar desesperado. Sim, deu tudo certo. Sim, pegamos o avião a tempo. Sim, tivemos que pousar em São Paulo. Sim, eu estava nervoso.

A viagem durou seis horas, passamos pelas cataratas do Iguaçu (não, eu não vi, mas o piloto disse que passamos), pelo norte da Argentina e quando chegamos à cordilheira dos Andes meu coração quase parou. Era o monte Aconcágua, gigantesco, majestoso, assustador. Um imenso monte branco e marrom que tomava conta de toda a janela. Eu nunca tinha visto algo tão imponente em toda minha vida.

Me senti pequeno, subtraído. Compreendi melhor o quanto os nossos sonhos são insignificantes frente ao tempo. Aquela montanha sobreviveria a todas minhas lembranças. A eternidade era apenas um suspiro. A eternidade é maior que todas as palavras. Meu coração estava entregue a uma tremenda comoção. Via naquele momento algo que muito sonharam em ver, outros morreram tentando conquistar. Vi o ponto mais alto das Américas de cima, mas estando diante dele tratei-o com todo o respeito.

Eu vi o Aconcágua no pôr-do-sol e nunca esquecerei este momento. Eu vi as cores daquela terra e acreditei ainda mais em Deus e em sua imensa capacidade. Foi incrível…

Do Aconcágua ao aeroporto de Santiago foi um átimo, uma descida vertiginosa. Santiago ficava num grande vale, entre os andes e a cadeia de montanhas do litoral chileno. Chegamos quando começava a anoitecer.

Era hora de correr…

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Geometria

Terra…

Quem me quer?

Terra…

Mal me quer?

Terra

Construção

Terra

Solidão

Terra

Canto e palavra

Terra

A vista assoberbada

Enterra

Encena o canto

Sibila e tanto

Brame o devenir

Terra

Quem me quer?

Guerra

Regeneração

Espera

Renega a solução

Esfrega

A cancela fecha

E então

Supera

A Terra

Seu caminho

Voa

Águia, água

Procurar

A terra pra pousar

E a terra

Posição

Terra

Simplificação

Terra

Treme-Terra

Aterro

Desterro

Desprezo

Delize

Desculpas

Destino

Destôo

Procuro

Mergulho

Esqueço o que sou

Bate estaca

vamo bater lata
bater bolo
batucada
na beira do precipício
vamo bater cara
abrir na marra
a situação
fazer sinestesia
é poesia
é insinuação
vamo ver de perto
verdugo, verdame
largo do verdun
ver a viradura
sacadura
é maré
que vira a via louca
ditadura
cala a boca
dá no pé
vamo dar risada
anistia
de qual é
é fazer loucura
fissura
formosura
igarapé
o mangue tá maluco
relógio cuco
que bate num segundo
sai de pulo
sai de ré
praia do recreio
leme
pontal
paranapanema
massacre
luta
no campo
na rua
na chuva
sapê
vamo vê
gingar
capoeira
no pará
o pontal
carajás
no pontal
tudo igual
jacaré
no pontal
tudo azul
zona sul
desessete
fita casseta
ak 47
cassetete
na cara do prefeito
é suspeito
é safado
proletário
bruzundanga
febre candanga
que vem zumbindo do céu
iluminando as sementes
fazendo do coro da gente
curtição
suspensão
suspirar…

Voltando

Além da imaginação
Olhos vulgares à espreita
Caminhos que se cruzam
Sinestesias encontradas
Beijos nus em sinuosidades…

Meus lábios fazem escuridão
Sopram ventos de mudança
Quebram o limbo dos vazios
Complementam-se
Tremem
Luzem…

E então, na minha Pasárgada
Rei que sou, respiro ilusão
Procuro variedades
Algébricas, geométricas
Afins…

Anestesia

Sebastião Salgado

Sebastião salgado – Açúcar

Quem sou eu?
Quem eu sou?
Se sou rei…
Que rei sou?
Ou serei?
Que restou?
Fim da noite…
Solidão
Carcará
Catamarã…
Corresponde a correr
De manhã…
Meu amor…
Diz pra mim
Jaçanã
Meu amor, diz pra mim
É maçã
Maracanã
Febre terçã
Meu amor diz pra mim
Só o fim
Que saudade do beijo
No ar
Que vontade
Maracujá
Que retrato escondido
Açucareiro
Febre do mel
Pesadelo
Febre da Terra
Machado guerreiro
Fonte de céu
Bruzundangas
Vales que viram montanhas
E eu nunca mais vou chorar
As balas riscando o ar
Me fazem poeta vindouro
Amando na fé o tesouro
De ter de viver sem chorar
De ter de viver sem chorar
De ter de viver sem chorar
De ter de viver sem chorar
De ter de viver solidão
Minhas lágrimas molham o chão
É chuva que corre o sertão
É sorte de te encontrar
Me manda pra vida esperar
Me traz bem pra perto do fim
Me ensina a dizer só sim
Me ensina a entender meu amor
Me faz suspirar de sapé
Da ponta da rua é que é…
Me dá um pedaço de tu
Andando na ponta do pé

Banespa

Banespa

Vindo da rua é de mim

Vindo da rua é melhor

Vindo da rua é sinal

Vindo da rua através

VIndo da rua, o suor

Vindo da rua, ilusão

Vindo da rua solidão

Vindo da rua paladar

Vindo da rua o revés

Vindo da rua a miragem

Poesia, paisagem, serragem

E céu

.

Vindo da rua, o real

Vindo da rua, o senhor

Vindo da rua, o sopé

Vindo da rua ou a pé

Vindo de carro e metrô

Vindo de pé e com dor

Vindo dali pra correr

Vindo dali pra saber

Vindo dali pra sonhar

Pois o ceu é bem perto de cá

Pois o vento me traz solidão

O vento não tem direção

O vento não sopra sem mim

O vento não tem mais fim

O vento não tem mais som

O vento ficou ilusão…

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Inspirado pela visão deste prédio ai em cima. Visão de uma selva de prédios, quase tão grande quanto a dos manauaras…

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Eu queria MESMO falar da minha ida a sampa mas, como as MENINAS sabem, eu nao tenho tempo nem pra colocar link nesse post. Então, vou postando aqui as impressões fabulosas, quase que diariamente, esperando assim dar um pouquinho das sensações…

.

Maiores detalhes no MSN…

.

Quando der…

.

rsrsrsrs

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Bem, este post tinha ate acabado, mas visitando uma amiga que sempre comenta aqui, eu tive uma idéia que saiu, assim do nada. Espero que ela goste…

Marília

Marília

Marilice

Loira de Dirceu

Que disse

Que a sandice

Monotônica

Marilítica

Vai se desfazendo

Pelos ares

Dominando cores

Caminhando em torres

Dos desequilíbrios.

.

Marília

Em seus olhos sorumbáticos

Diz desesperada e vistosa

Que a flor cálida da noite

Em sua corrida contra o sonho

Se sincopa e simplifica

Produz dó e sentimento.

.

Onde eu for que seja breve o sonho

Que se não for a cor Marilítica

Não se quede paralítica

Mas brilhe antropómorfica

Causando ciúmes no sol

E dominando a lua,

Espelho imortal de mim

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Tá, tá, ultima coisa, computador desconfigurado, logo sem acentos. Vai ficar assim…

E tem coisa nova no Morango. Visitem…

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UPLOAD: Editado e pronto para comentários

Desabafo

Negra Nua

Toda essência da inteligência tem uma importância preponderante na consciência do inocente, na sanidade do intolerante. Toda sabedoria do indeciso, toda serenidade e prejuízo, é preconceito, é previdência, é sagacidade e incompetência, é pudor e indecência, é solicitude e condescendência…


Mas se é juízo fechando os olhos nas alamedas dos edifícios, faz com que seja na dor a última parelha e naquele beijo vazio e delicado que antecede a indecência iluminada, naquele beijo longínqüo e efêmero, existe luz e dor suficiente pra ser vermelho e azul ao mesmo tempo: um tipo flácido de arrocheado que me doma, me toma, me rasga e me deserda.

 

Toda essência da inteligência tem simplicidade e solicitude demais pra ser humilde. Tem cadafalsos demais pra se fugir. Tem lucidez demais pra se encontrar.

 

Viva a ignorância! Bradem efêmeros pelos bares das cidades e pelas luzes acesas das casas em noites de domingo.

 

Viva a ignorância! Digam os filhos famintos da pobreza que se desnudam diariamente à minha frente! Viva a burrice, a sordidez e a impunidade. Viva o belo espetáculo que se mostra à frente: a morte de uma geração inteira de bruzundangas, tupiniquins, pátrios irmãos em rios de sangue, filhos paridos de Paulos Renatos.

 

Mas se me dizem da esperança, que ela viceje ainda que não se mostre forte e decidida. Ser for pra crê-la, seja no instante onde mais ela se necessite e se for perdê-la seja na hora que mesmo eu me ressuscite.

Rain

Rain

Feel the rain

Purple rain

By the train

See the rain

Closing my pain

And making revolution

On me

In my eyes

Look my eyes

Closed eyes

Feeling revolution

And pain

All the pain

Became feellings

All my feelings

Became kisses

And kisses

And kisses

Around the world

Around the rain

Feel the rain

Purple rain

Warming up my brain

.

.

.

 .

Tradução (A pedidos)

 .

Chuva

.

Chuva

Sinta a chuva

Chuva de púrpura

Pelo trem

Veja a chuva

Fechando minha dor

E fazendo a revolução

Em mim

Em meus olhos

Veja meus olhos

Olhos fechados

Sentido revolução

E dor

Toda a dor

Tournou-se sentimento

Todos os meus sentimentos

Se tornaram beijos

E beijos

E beijos

Ao redor do mundo

Ao redor da chuva

Sinta a chuva

Chuva de púrpura

Aquecendo o meu cérebro…

.

.

(Acho que ficou bem melhor em inglês..)

.

Rosa Negra

Black Rose

Rosa despetalada

Chora sozinha,

Entristecida

Chora a rosa

Abandonada

Treme de dor

A alma machucada

Tem tanto medo

E tanta dúvida

É só uma flor escancarada

Muda, miúda

Flor amarga

Chora a Rosa

Em suas histórias,

Perdida em devaneios,

Mulher de mil palavras

Soltas no espelho

De um tempo que continua

Se despedaça

Se desvirtua

Se revigora no sincronismo

Se atribula de desespero

E quando Rosa se desmancha

Vira pó, solo, rocha

Fertiliza a terra com seu lamento

Vira seiva que alimenta

Palavra que encanta o mundo

Beleza negra que toma tudo

Torre

Torre Eifeel

 

Fonte da Foto

 

Em cima da torre tem um trem

Em cima da torre tem um pão

Em cima da torre tem ninguém

Em cima da torre tem sertão

Em cima da torre é o país

Em cima da torre sou feliz

Em cima dos telhados sou migué

Vivendo de dores, dizendo o que é

Que é que eu preciso pra te entender

Que é que eu preciso pra te descobrir

Pode ser verdade ou solidão

Pode ser loucura ou depressão

É outra pessoa, ou não é não

É a torre caindo na palma da mão

É verão, vai subindo o balão

É a estrada de Santos tão certa e além

É a vontade que eu tenho de ser mar

É as pernas dançando de sambar

É a vida que pulsa em um dia de céu….

Marselhês

MarselhaTodo amor respira de mordida

Faz de desequilíbrio

Conjurando poesia

E simplificando a prosa diária

Em pequenos pedaços de céu noturo

Eu me espalho e me basto

Preso na minha Bastilha,

Ignorante fruto de uma Marselha tropical

Vil e erótico enquanto cético

Livre e robusto enquanto cálido

Sofro de amor e de virtude

Sofro de desapego e desassossego

Sofro de parto, Socrático

Sofro de febre, reumática

Sofro que sou

Solfejo

Soldado

Solstício…

Cerrado em Agosto

Vento seco é dor que doma

A garganta e traz o ópio

Quando meus olhos choram

E meus calcanhares rachados sangram

Produzindo pegadas vermelhas

Onde passam

 

Sou um caminhante solitário

De lábios ressecados

E com uma sede do tamanho

Da vontade de que chegue

A chuva e com ela eu deixe

De ser uma sombra de infinito

 

Enquanto isso eu sofro

Atravesso as avenidas

E roubo beijos das esquinas

Acinzentadas e vermelhas de pó

Onde dormem os caiporas

As cucas e as cascavéis

 

Sou um retrato de deserto:

Parte de mim é tempestade

Parte de mim é cacto

Parte de mim é duna

Parte de mim é oásis

E eu sou todo céu azul

Um mar de ilusão sem nuvens

 

Água

Água cai do céu, dribla o infinito

E produz cor de véu

Cor de retrato decidido

Que toma tudo e ressoa

Em trovoadas na mata

Assustando os animais famintos

E simulando hecatombes

Produzindo simbiontes

Auxiliando os amantes

Na sua dança natural

Vai água, cai do céu

Dá pra mim o teu suspiro

Leva de mim, enquanto respiro

O meu medo de ser infiel

Não ao amor, nisso eu sou forte

Infiel ao desejo de mudar

De lutar contra a morte

E nas lutas incrédulas

Entre mim e o infinito

Sair vivo, sair água

Gelo, vapor e líquido

Gaia enciumada

Cobertor que traz mais frio

Deixe que eu seja mais de mim

Deixe que eu seja o sol

Que te acalanta

Que te doma

Que te faz chorar

Em chuvas tropicais

E em garoas de domingo.

Água redentora

Mel celeste

Doce como o sonho

Que sempre faz mais de si

Coroa-me com louros

E dilúvios de despautério.

Foto da Linda Cily, de quem sou fã incontestável, com a ajuda de Miss P., e Aline a quem devo muitos dos meus dias de alegria. Estou de volta, inclusive aqui.

Solidão

 

 

Luz da cidade
Em pedaços de céu
Destruídos nas falhas
Dos dentes tão tortos
São mortos que ficam
Em pátios abertos ao sol
Fedem distraídos e torpes
Com lembranças de um tempo
Longínquo e suave
Tempo de amor e volúpia
Tempo de orgia e saudade
Tempo de dó…

Faz de mim
Saudade e amor sem fim
Faz de mim
Um pedaço do futuro
E do pó
Das lembranças
Que só
Eu já sei
Que só eu serei
Só pra saber que o amor
Me encontrará

Para Ana P.

Samba do Inverno

Inverno

Foto: Borgata Abadia/Itália
Fonte: http://www.comune.inversopinasca.to.it

A Alma de ressaca
Bóia em pranto
Nas peles frias
Dum inverno sombrio,
Comutando verdades
E simplificando fantasias
Quando me deito e busco,
Aninhado comigo
Sôfregas vezes,
Alento, colo, segurança
Na cidade irreal:
Eterna fuga de mim,
Jogo sem fim
Nas praças do meu coração
Perdido em desespero
E gozo
No mel das irradiações
Irremediáveis

O Palhaço

Tomba na cana o Bagaço
Festa na casa do Palhaço
Pinta-se a cara: eu que faço
É minha metade e pedaço
É dobro do meio de mim
Sorrindo devagar enfim
Desenho de pena: nanquim
Ela olha pra tudo que faço
Malabarista e palhaço
Dono de bordel de ilusão
Pra esquecer solidão
Eu venho sorrindo demais
Fundindo na luta que faz
Meu coração difundir
A luta é metade e pedaço
Torta na cara e regaço
Me dividindo em bagaço
É só pra me seduzir
Menina me faz sorrir
Menina me faz dançar
Louco de varar o ar

P.S.: Essa semana eu voltei com carga total no MORANGO COM GENGIBRE. Tá quente, viu? Tomem em doses homeopáticas…
Depois não digam q não avisei…